Muitos riscos são avaliados numa mudança profissional mas outros são ignorados
Avaliar uma mudança profissional pode criar uma verdadeira reviravolta na nossa vida trazendo por um lado entusiasmo de uma possibilidade de vida melhor e por outro lado inquietação por avançarmos para campos desconhecidos. Há provavelmente um grande investimento de formação, tempo e energia no trabalho que a pessoa desenvolve na atualidade o que faz com se crie um apego natural a essa profissão.
O apego que sentimos ao trabalho atual bem como o facto de sermos mais sensíveis a estímulos negativos faz com que nos mantenhamos num emprego ainda que não nos satisfaça.
Sabemos que há coisas que nos fariam sentir melhor numa carreira mais alinhada, mas identificamos no processo de mudança várias coisas que nos fariam sentir pior. A forma como nós seres humanos avaliamos possíveis perdas e ganhos é relevante pois detestamos 2 vezes mais perdas do que gostamos de ganhar.
Quando se trata de mudar de profissão estamos psicologicamente disponíveis para identificar tudo aquilo que pode correr mal. Na avaliação que fazemos de um possível trabalho ser ideal para nós tendemos a salientar mais os nossos pontos fracos que os nossos pontos fortes, conhecimentos, experiências e capacidades.
Este processo faz com que sejamos exageradamente precavidos e mantendo-nos nos trabalhos que não nos realizam.
É como se avaliássemos apenas os riscos que corremos quando avançamos para uma nova e interessante profissão. A verdade é quando estamos a ponderar mudar de profissão há pelo menos duas possibilidades da nossa mente: ficar no trabalho atual, desenvolver uma nova atividade. Qualquer decisão pode ser processada instantaneamente ou gradualmente, mas a grande questão é: porque é que nós só tendemos a avaliar os riscos de avançar para uma nova profissão? Porque não consideramos os riscos de ficar na profissão atual que já não nos realiza?
É um desafio identificar estes riscos, por esse motivo vou enumerar alguns para que possa ser mais fácil avaliar todas as opções da forma mais eficiente possível:
Esgotamento
Muitas vezes aquele trabalho que no início preencheu as expectativas da pessoa com o tempo perde o interesse o que faz com que se inicie um processo de deterioração de entusiasmo e disposição. A pessoa deixa de encontrar motivos para desempenhar o seu dia a dia profissional. Há pessoas que dão o litro nos seus trabalhos, vestem verdadeiramente a camisola, mas começam a sentir-se sem energia quando as suas propostas de melhoria são sistematicamente recusadas, o que faz com que deixem de fazer algo essencial – contribuam para o melhoramento continuo da organização para a qual trabalham através da sua criatividade.
Aborrecimento
Pessoas consideradas bem sucedidas tendem a investir na definição e cumprimentos de objetivos, mas o facto de alcançarem metas não significa que estejam a desenvolver um trabalho efetivamente gratificante que os faça sentir vivos, divertindo-se enquanto trabalham. Há pessoas que despertam para esta realidade quando deixam de saber qual é o próximo objetivo ou quando os objetivos se começam a repetir.
Por exemplo um médico que teve o objetivo aliciante de tirar medicina e conseguiu e logo de seguida quer tirar uma especialidade… chega a um ponto em que se questiona “E agora? Qual o próximo passo?” Muitas vezes os objetivos traçados foram motivados pelo reconhecimento e estatuto social (motivações externas), quando deixam de existir estas motivações externas sentem necessidade de se encontrar e de se desenvolverem a partir do seu interior. Quando as pessoas se desenvolvem a partir de motivações intrínsecas tendem a fazer escolhas profissionais com base nos seus interesses, talentos o que faz com que deixem de trabalhar para viver e passem a viver enquanto trabalhar. As pessoas muitas vezes escolhem aquilo que acreditam que é ser bem sucedidas e abdicam da diversão que o emprego pode proporcionar, ficando entediadas.
Desalinhamento
A cultura vivida nas organizações é muitas vezes incompatível com a nossa, o que faz com que sejam promovidos comportamentos que colocam em causa valores fundamentais para a pessoa. Quando se toma consciência de que ou não se é aceite por não se comportar de acordo com a maioria ou que está a comporta-se em desalinhamento com aquilo que mais valoriza a pessoa fica com uma grande vontade de fugir, é como se contorcesse ficando naquela realidade. Nestas situações há uma repressão da essência da pessoa fazendo com desenvolva uma máscara para poder continuar naquela realidade e estas dinâmicas somatizam emoções e promovem doenças. Eu recordo-me que quando tomei consciência, na banca, que existiam valores meus colocados em causa eu senti que estava a ficar doente, eu tinha uma certeza interna de que se lá continuasse ficaria doente. Felizmente decidi sair e iniciar a minha atividade por conta própria.
Ser uma pessoa diferente de quem se quer ser
Quando a pessoa desenvolve mascaras, ajustando-se aquilo que acredita que a empresa espera de si, comporta-se não de acordo com aquilo que acredita e valoriza mas sim de acordo com aquilo que sente que é valorizado pela cultura organizacional numa tentativa de sobreviver em um emprego no qual não se sente alinhado. O facto de se comportar de uma forma diferente daquilo que é importante para si faz com que se distancie da visão de exemplo que a pessoa quer ser. Todos nós somos felizes quando sentimos que podemos ser quem somos, nesta situação a pessoa tem a sua felicidade bloqueada.
Ser dispensado
Muitas vezes as pessoas não se despedem porque acreditam que tem um emprego seguro para a vida, mas a possibilidade de a pessoa ser dispensada um despedimento coletivo, por falência da empresa, ou por outro motivo existe. Normalmente a pessoa foca-se apenas no risco de perder os rendimentos seguros do futuro se mudar de profissão.
Remorso
Quando formos mais velhos e olharmos para trás vamos querer orgulhar-nos das decisões que tomamos, das escolhas que fizemos. Se não agimos em relação a algo que nos incomoda vamos provavelmente arrepender-nos de não o fazer. Então um dos riscos que corremos e normalmente é ignorado é o arrependimento de não fazer nada de diferente perante uma vida profissional que não nos satisfaz é ficarmos com remorsos num futuro.
Ser um exemplo menos bom para os filhos e netos
Sabemos que os filhos não fazem aquilo que os pais dizem e sim aquilo que eles efetivamente fazem. Se os filhos virem pais a trabalhar unicamente por dinheiro, sacrificando os seus sonhos e ambições, muito provavelmente vão escolher vidas profissionais semelhantes. Se os pais forem um exemplo de pessoas que se desenvolvem e se alinham profissionalmente, desenvolvendo a sua atividade de acordo com os seus valores, acreditando no potencial infinito que tem dentro de si os filhos vão provavelmente replicar também esta situação. Então a grande questão é: que tipo de exemplo eu quero ser para o meu filho?
Stress
O facto de estarmos em empregos que não nos satisfazem e que são extremamente exigentes connosco faz com que desenvolvamos stress, às vezes frustração, outras vezes raiva e estas emoções acabam por contagiar outras áreas da nossa vida. Então os riscos de ficarmos num emprego que não nos faz sentir realizados vai muito além da nossa vida profissional como pessoas que somos as várias da nossa vida interligam-se e contagiam-se entre si.
Estagnação
Sentido de bloqueio na vida profissional, não há fluidez. A pessoa não desenvolve competências e conhecimentos do seu interesse sentindo-se limitada e sem grandes possibilidades de crescimento o que se torna um dos riscos ignorados de uma mudança profissional.
Estes riscos devem ser ponderados juntamente com os riscos de avançar para uma mudança para que a pessoa possa tomar uma melhor decisão. Importante relembrar que o processo pode ser progressivo.
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